segunda-feira, 16 de abril de 2012

Cansei de contar quadrados. Vou voltar para o d20 Old School


Em 2011 resolvi mudar de vida. Joguei tudo para cima e me mudei para o interior, deixando família, amigos e namorada na capital com o objetivo de prosperar em uma cidade que já está prosperando. Após alguns meses, batendo papo com um dos meus primos nerds pela internet, surgiu a possibilidade de encurtar a distancia e amenizar a saudade: "Vamos montar uma mesa online de RPG". Havia muitos anos que eu não mestrava. As idéias transbordando pela cabeça, o grupo já formado, mas então veio a dúvida: Qual sistema irei utilizar?

Eu tinha ouvido falar que há alguns anos sobre o lançamento da 4ª edição do Dungeons & Dragons, RPG por qual eu comecei e mestrei todas as minhas campanhas, lá no D&Dzinho da Grow, passando pelo AD&D e finalizando ainda na edição 3.0 (quando saiu a versão 3.5 eu já tinha parado). Então resolvi arriscar: Se for para recomeçar que seja do zero! Comecei a pesquisar sobre a edição, ver os feedbacks dos jogadores, ler comentários, reviews e reportes de sessão. Muitos estavam entusiasmados com o retorno da jogabilidade do D&Dzinho, outros enfurecidos porque o sistema ficou truncado, recheado de regras que tornaram o jogo mais parecido com um wargame. Escolhi seguir pelo caminho do pessoal que havia gostado do sistema e resolvi dar uma chance a ele.

Comprei o livro, comecei a ler e a empolgação só aumentava: "É um MMORPG de papel! As classes são definidas por funções!". Pra mim, que tinha passado os últimos anos viciadasso no World of Warcraft, era um prato cheio ter um RPG tradicional de mesa recheado de características de um MMORPG. O livro do Mestre é revolucionário. Nunca foi tão fácil pensar e montar masmorras, criar encontros, pensar em estratégias de combates e etc. Em pouquíssimo tempo tudo estava pronto para começar a jogar e a expericencia inicial foi otima.

Ferramentas úteis, poderes super-bacanas para todos os lados, lutas bem equilibradas, xp rolando solto, personagens upando. Tudo muito empolgante, mas aos poucos eu estava começando a sentir falta de alguma coisa, talvez porque eu estava mestrando online. Arranjei um grupo aqui na cidade e, como o objetivo de testar o sistema e as minhas habilidades como mestre, resolvi repetir a mesma aventura. Fiz um battlegrid, providenciei tokens impressos, dados novos, argolas de tampinhas de refrigerante para representar as marcações e poderes, assinei o D&D Insider para ter acesso a mais ferramentas e publicações, baixei aplicativos para celular e o escambau. Mais uma vez o inicio foi empolgante, batalhas rolando solta, xp adoidado e a galera subindo de nível. Contudo algumas coisas começaram a atrapalhar o andamento do RPG, e depois de 6 meses mestrando tanto online quanto presencial, o rpg parou. Hoje, 6 meses após a última sessão, tendo na minha lembrança as minhas sessões de 10 anos atras e essas últimas eu acho que cheguei a uma conclusão: Cansei de contar quadradinhos.

Mestrando D&D 3.0 "à caralha" (foda-se as regras, o que importa é contar história e dar risada), somente com as fichas na mão, amigos na mesa e idéias explodindo na cabeça, eu pude proporcionar boas aventuras, cenas antológicas lembradas até hoje por quem estava na mesa: Personagens pulando da torre e caindo no lago para escapar da bola de fogo, ou um dos ladinos mas azarados bêbado se aliando aos Orcs para derrubar o próprio grupo, ou até mesmo plot-twists como a grande revelação do real vilão fizeram parte de minhas aventuras de D&D. Essas reuniões e os bate-papos que ela proporcionarão ainda hoje fazem parte da minha vida, tanto que ainda essa semana que passou eu relembrei e recontei histórias de aventuras antigas para amigos novos.

Com a 4e por outro lado tínhamos todos os aparatos para fazer o jogo como descrito no livro: Grid de batalha, cartões, tokens e miniaturas e a assinatura do D&D Insider. Devo assumir que essas ferramentas facilitaram infinitamente o trabalho do mestre. O pré-jogo era um negócio muito divertido, o ritual para montar os encontros, com combates e armadilhas. Contudo o jogo ficou demasiadamente prático e matemático demais. Basicamente o jogo ficou: contar quadadrinhos, jogar dados e causar danos e contar quadrados. Muito desse marasmo se dá, talvez, pelo meu hiato como mestre, já que passei muitos anos sem jogar, e talvez pelo meu amadurecimento, já que há 10 anos atrás eu tinha desprendimento social de fazer coisas (como brincar de corre nú bebado pelas ruas da cidade) que talvez eu já não faça hoje. Esse talvez seja o lado ruim da vida adulta.

Por outro lado pode ser sim um problema do sistema truncando, que te prende ao livro de regras por elas serem tão bem explicadinhas e faça você esquecer todo o resto do que realmente envolve o RPG. Tive um pouco dessa certeza ao ensinar a minha digníssima a jogar RPG. Para isso eu escolhi o PocketDragon, versão de bolso o sistema BR Old Dragon. Eu poucos minutos desenvolvi uma aventura  solo muito simples para ela, onde as regras eram adaptadas na hora de usa-las. Poucos minutos depois um casal de amigos chegou em minha casa, se juntaram a ela e a diversão foi até tarde da noite. Fiquei animadasso, tentei inserir o 4e nessa galera mas a coisa não fluiu.

E agora, com a necessidade de voltar ao mundo de fantasias aflorando, resolvi tirar da prateleira o livro do Tormenta RPG, que eu havia comprado há uns dois anos por ser muito fã do cenário, mas que acabei não jogando. Folheando as páginas fui voltando comecei a voltar tempo, lembrando da época em que as regras eram deixadas de lado e pensando mais na diversão e nas besteiras de rolavam em uma mesa de RPG, ainda mais em um cenário mais galhofado como Tormenta (onde todas as minhas melhores aventuras se passaram).

De fato o que muita gente vai dizer por ai que o que faz uma boa mesa de RPG não é o sistema, mas sim o mestre e os jogadores. Em parte isso é verdade (já que um dos fracassos da minha experiencia com 4e foram jogadores que queriam levar a coisa muito na ponta do lápis) mas quando um sistema que te dá brechas para tornar a experiencia mais lúdica, na MINHA OPINIÃO, eu consigo extrair melhor a diversão dos meus jogadores.

10 comentários:

  1. Bom post.
    Se bem que ainda prefiro uma mescla dos dois... D&D 3.5, só com os core books e sem BattleGrid.

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  2. Ëvael o meu "ensino médio" em RPG foi o AD&D, com regras robustas e confusas, onde do livro mesmo eu só usava a desculpa de jogar.

    E como sabemos em AD&D nem mesmo a Ficha de personagem o sistema fornece, imagine outros props como miniaturas e battlegrids. Evolui ara o 3.0 seguindo a herança do AD&D. Por isso que quando pus as mão na 4e eu fiquei tão impressionado com a quantidade de ferramentas e acessórios.

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  3. Seja bem vindo ao maravilhoso mundo do RPG OldSchool!

    Onde tudo é mais simples, mais solto, mais imaginativo e muito, mas muito mais divertido! :-)

    Abraços

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  4. Bem-vindo... você resumiu a história que ocorreu comigo! Se precisar de algo, a galera do Old Dragon está por aí! Abraços!

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  5. Bom post, é sempre interessante compartilhar experiências, espero que você tenha mais sorte a partir de agora!

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  6. Eu jogo RPG desde 2011, comecei com os livros em português do D&D 3E recém-lançados pela Devir.
    Joguei e jogo diversos sistemas até hoje. Possuo material físico da 1E(caixa preta da Grow) e AD&D (comprados de mestre veteranos). Conseguir jogar melhor a 1E usando o Rules Cyclopedia .
    Os sistemas que mais joguei por anos foram a 3E/4E, nos grupos que passei não sentir diferença alguma na diversão, porém o equilíbrio da 4E deu oportunidade de todos os personagens brilharem, coisa que NUNCA aconteceu em 1E/AD&D/3E, e isso com mais de 50 jogadores diferentes por várias mesas espalhadas aonde moro. Também já joguei TRPG e Pathfinder, os dois são mais dos mesmo em termos de D&D 3E, falo em termos de regras e desequilíbrio, não de outros suplementos e cenários, nos quais TRPG e Pathfinder são bons. Tenho Old Dragon(comprei a 1ª Impressão), Migthy Blade, 3D&T Alpha, M&M, etc ...
    A minha campanha atual (2 anos de campanha já, sou o mestre) é em 4E. Então vem a pergunta se estou satisfeito com a 4E ?
    Na realidade considero a 4E a melhor edição de D&D, mas mesmo ela não me agrada, pois é muito tática e fica muito parecida com boardgame (o MMO dela nunca me incomodou), com lutas demoradas iguaizinhas aos tempos de 3E.
    Não curto Old School, mas acho válido sua divulgação, é um clima diferente de jogo. Não curto o estilo pois tem uma letalidade forçada e com muitos furos em regras e joga nas costas do mestre ficar no free form o tempo todo. Em termos de letalidade, pelo menos o GURPS e sistemas Indies narrativistas (tipo FATE) possuem letalidades mais pé no chão e não maluca dos sistemas Old School.
    Apesar de ir com minha campanha de 4E até o fim, possivelmente meu novo sistema padrão será o Savage Worlds, lutas rápidas, divertidas e um desequilíbrio toleravél (3E/Pathfinder/TRPG possuem desequilíbrios INTOLERAVEIS, os Old School, pior ainda).

    Recomendo um Podcast curto de 35 minutos muito bem feito sobre game designer :

    http://www.areacinza.org/2011/11/tons-de-cinza-03-pra-que-diabos-servem-as-regras-nos-rpgs

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  7. Old dragon velho...é a pedida.... pocket dragon é perfeito pra iniciantes

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  8. Valeu pelos comentários galera. Eu também tenho o OldDragon, achei um trabalho magnifico mas eu não quero voltar tanto no tempo. Por isso que eu irei começar a mestrar essa semana o Tormenta RPG, que lembra os bons tempo da 3E.

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  9. Para iniciantes com temática medieval, até hoje nunca vi melhor que o Mighty Blade.
    No site do sistema tem todos os PDF's gratuitos, com o Sistema COMPLETO (sem essa de fast play).

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  10. Opa acho mais divertido mesmo, até pq os ultimos RPGs que eu tenho jogado só rolou briga por causa de regra, e acabou perdendo a graça...

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